Idade adulta
Miúdo, quanto te conheci eras um chavalo sem futuro, mal te aguentavas nas canelas naquele Pentium com FreeBSD, não sabias bem o que querias fazer da vida, não percebias muito nem da Internet nem de nada, eras apenas um script de bash que fazia grep a um ficheiro. Como? Perdão, base de dados, claro, peço desculpa.
Mas safaste-te bem, tinhas gana e paixão, foste bem acompanhado, e davas cartas às alternativas, páginas em Gopher ou pior: teletexto por X.25. Não tardou e já te vangloriavas pela Usenet dos teus magníficos feitos, das tuas taxas de crescimento, da tua importância para a Internet em Portugal. E de repente veio a glória, convidavam-te para palestras na FCCN, davas entrevistas na rádio, e tenho uma vaga ideia de até te ter visto num programa da Praça da Alegria com o Manuel Goucha, não me lembro bem. Enfim, eras um batráquio presunçoso insuportável, era o que era.
O que é certo é que a partir daí ninguém te parou. Lá saíste da Universidade, fizeste uma startup lá pelos lados da Lourenço Peixinho, arranjaste uns amigos em Lisboa que te vendiam publicidade, fizeste umas permutas com os primeiros anunciantes que te orientaram uns PCs para a tua malta trabalhar e uns móveis para se sentarem, contrataste os teus primeiros funcionários, era a loucura. E o luxo quando fizeste upgrade ao velhinho PC e o puseste a correr Linux naquele maquinão novo com leitor de tapes que instalaste num bastidor da Telenet em Lisboa e ao qual te ligavas por um circuito dedicado RDIS com uma estonteante largura de banda de 64kbit/s? Grandes tempos.
E depois o inevitável aconteceu, uns senhores cheios de visão lá perceberam que a Internet não era uma moda, era a revolução da nossa geração; foram ter contigo, encabeçados por aquele que viria a ser um dos teus maiores amigos de sempre, e fizeram-te uma proposta que não podias recusar. Não foi uma decisão fácil, lembro-me bem como andavas pelos cantos a pedir conselhos aos teus amigos. Mas foi pelo melhor. Aliás, foi das melhores decisões que alguma vez tomaste, digam o que disserem.
A partir daí não há palavras que possa condensar nesta pequena mensagem para descrever o mar de acontecimentos, mudanças, e sucessos que se sucedeu à tua volta. Fá-lo-ei um dia, podes ter a certeza, mas não agora. Lembro-me das 4 noitadas seguidas que fizeste na reta final, quando te transformaste num portal, para estares de cara lavada pronto para seres apresentado na Internet World na FIL antiga; que adrenalina. Recordo-me de seres o primeiro a criar o conceito de rede de conteúdos e parceiros em Portugal, do primeiro shopping, email gratuito, blogs, messenger, vídeo, fotos, classificados, eu sei lá. Fizeste de tudo um pouco, algumas coisas bem e algumas coisas mal, mas sempre convicto, sempre com força, como tem que ser. No auge da tua popularidade era vulgar confundirem-te com a própria Internet, e percebia-se bem o porquê.
Em breve virias a mudar novamente de casa, desta vez juntar-te ao maior grupo de telecomunicações do país. Mais uma improbabilidade, mas ao mesmo tempo outra das tuas melhores decisões de sempre. Foste acarinhado, protegido e cultivado por uma geração de gestores que nos próximos anos iriam mudar a empresa toda, estruturalmente e culturalmente e que perceberam desde o primeiro dia e até hoje o quanto tu vales muito para além das audiências e do teu negócio. Por essa altura a tua marca virou também produto de acesso à Internet, primeiro com o Dialup e depois com o ADSL. Tiveste mesmo muita sorte com esta gente boa e com esta casa, digo-te já, eu que com a idade perdi a ingenuidade toda sobre o mundo das grandes corporações.
E em boa altura soubeste diversificar a tua atividade e deixar de ser apenas o motor de pesquisa Português para teres muito mais ambição, ambição fora de Portugal inclusive, caso contrário os senhores americanos de Stanford bem te tinham limpado o sebo, mesmo depois de lhes teres dado a mão quando eram pequeninos. Enfim, ninguém acreditaria. Mas por essa altura, SAPO, as tuas patas já eram gigantes, nem Stanford nem Seattle, nem São Francisco te podiam meter medo.
Mas nem tudo foi um mar de rosas, lembro-me das tuas argoladas, como aquele ano em que te enganaste com a tua data de nascimento e fizeste uma festa cheia de convidados à volta da tua idade errada. Um ano ao lado. Ninguém notou. OK, notou o MV que elaborou logo uma teoria maquiavélica sobre a PT, raios, há sempre alguém mais atento. Ou daquela vez que estiveste mais de uma hora em baixo, e não tinhas backups, e te viste obrigado a recuperar ficheiros e código fonte diretamente a partir da RAM dos servidores, old school. Tantas mas tantas asneiras monumentais das quais (ainda) não me permites falar.
Mas pronto rapaz, hoje é um dia de celebração. São os teus dezoito anos, agora és um adulto. Quero que saibas que és o maior, tens uma equipa inacreditavelmente talentosa e trabalhadora, que não desiste sob adversidade nenhuma, que não se conforma com nada e que questiona tudo (e todos, se for preciso) e que vai continuar a fazer as asneiras todas que forem precisas para continuares a ser gigante e bem sucedido. És um gajo cheio de amigos, andas a fazer coisas brutais por todo o lado, Cabo Verde, Angola, Moçambique, Timor Leste, nas Universidades, com as Startups em Portugal, organizas um evento de tecnologia para programadores e criativos de categoria mundial, ajudas o Meo e a PT com a tecnologia e inovação que te estão no DNA. Caraças meu, tenho um orgulho enorme em ti.
És grande, parabéns aqui do teu companheiro!
(6 jovens com tempo demais em mãos, e não me orgulho da couve que tenho na cabeça)
** (primeira página do SAPO, em 1995. Por esta altura ainda só haviam browsers a preto e branco, a Internet a cores só viria a surgir mais tarde. Notem o URL)
** * * (primeira celebração de sucesso do SAPO, postada na Usenet, no grupo pt.internet, em Outubro de 1995, quando atingimos os nossos 1000 apontadores registados)
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(Ó para nós todos aperaltados e ultra-nervosos no programa da Maria Eliza em 1997, em direto)
(só um corredor vulgar lá no pântano, dias de hoje)
(UPDATE: SAPO apaga as velas com a equipa, pelos seus 18 anos. O resto da malta, somos uns 300, estão atrás da lente)