Ensaio sobre Portugal, parte 3, Sucesso
Independentemente da profissão e do percurso das pessoas eu tenho por princípio nutrir uma grande admiração por todos aqueles que conseguem alcançar o sucesso profissional em Portugal. Estas pessoas têm que ser excepcionais a muitos níveis: não só na sua área de especialidade, mas também na determinação, resistência e na garra que têm que ter para conseguirem ultrapassar tantas barreiras.
Cheguei à conclusão que Portugal é um dos raros países do mundo que consegue condenar o fracasso e o sucesso ao mesmo tempo, o que é obra. O fracasso é culturalmente marcante e o sucesso é politicamente penalizado. De uma forma ou de outra o indivíduo que sair dos padrões da aceitação económica ou social predominantes deste país vai sempre levar no pêlo.
Passo a explicar.
“Falhar é humano” não é frase que se ouça muito por terras lusitanas, a não ser, claro seja, quando é proferida por falhados. Um gajo bem sucedido não é aquele que durante a sua vida acertou mais vezes do que errou. Não. Aos olhos desta aldeia de 10 milhões de vizinhos coscuvilheiros de descendência latina o tipo será essencialmente um incompetente que só fez asneiras.
E até vou mais longe. A raiz do nosso problema é que somos mesquinhos, estamos habituados e acomodados a sermos pequenos e pobres e parece que não temos grande vontade de o deixar de ser. E quando assim é, espezinhar os outros passa a ser um desporto, uma defesa natural, uma especialmente cobarde diga-se, contra a hipótese remota de “um dos nossos” vir a ser alguém. Estigmatizar quem falha e amaldiçoar quem vence é como que uma forma de prevenção para garantir um padrão social de tranquilidade colectiva. E convenhamos, nós gostamos de padrões e gostamos de estabilidade, mesmo que o padrão seja péssimo e que a tranquilidade o proteja. E o resto, meus amigos, na minha opinião deriva disto.
E depois, este tipo de socialismo político que insiste em penalizar o sucesso como solução para todos os nossos problemas não tem futuro nenhum. E isto é um barrete que bem pode ser enfiado por qualquer um dos partidos que já tenha estado no poder durante a memória da minha geração, incluindo os da dita ala direita da assembleia.
Não haja confusão, não se trata de ser contra o estado de bem-estar social nem contra o princípio basilar de que para este garantir a saúde, a educação, os subsídios de desemprego e a segurança social, os ricos contribuam mais para ajudar os mais desfavorecidos. Até aqui tudo bem, gosto. Mas esta noção perfeitamente romântica que nos persegue há décadas de que podemos subsidiar todos os problemas de um país ineficiente à custa do sucesso daqueles que o conseguem alcançar, com isto não posso concordar nunca.
Qual é afinal o incentivo e a proposta que temos para dar aos nossos jovens promissores em Portugal? Trabalhem muito mas não demasiado, só o suficiente para não saírem do padrão? A sério? É com esta ambição e motivação política que vamos evitar a avalanche de fuga de talento que se avizinha nos próximos anos face ao que está prestes a acontecer com a nossa economia? Não me parece.
Para alcançar, respeitar e saborear o sucesso, Portugal precisa urgentemente (também) de uma cultura de falhanço.
Como é que podemos falar tanto de empreendedorismo e de inovação quando o sistema está todo ele montado para conduzir os jovens empresários por percursos lineares. Ser empreendedor significa tudo menos linearidade ou padrões: significa sonhar, arriscar, falhar e tentar de novo, e fazer disto um processo iterativo como um fim para alcançar os objectivos, e ser muito rápido quando o é necessário, não se coaduna nem com leis conservadoras nem com um sistema político-cultural que, tirando jogadores e treinadores de futebol, dispensa sucesso profissional em excesso.
As partes boas? Calma, lá chegarei.
Antes, Parte 1, Parte 2 – Iedologia
A seguir: Parte 4, O fado.