Codebits 2009
Acabou.
O fim do Codebits é sempre, ano após ano, um misto de satisfação e tristeza. Satisfação porque correu muito bem e porque nos orgulhamos de ter proporcionado três dias inesquecíveis aos participantes do evento, mas também tristeza porque o que é bom não devia acabar assim tão bruscamente, parece que morreu alguém. Este evento provoca-nos a todos uma espécie de distúrbio bipolar a oscilar entre a hiperactividade criativa e satisfação extrema, e uma quase depressão nostálgica que é estranha, porque só acabou ontem mas parece que foi há mais tempo, porque já temos saudades.
Este ano, por factores diversos, não tivemos a habitual cobertura televisiva do Codebits contudo dei uma série de entrevistas a revistas e jornais. E uma após a outra a questão repetia-se: “Então e quais são as novidades para o Codebits deste ano?”. E eu lá preparei a cassete que serviu o propósito com apenas pequenas variantes, conforme a ocasião. Mas a realidade é que é mesmo difícil explicar a não-geeks o quão bom e interessante o Codebits foi. Como é que se explica ao público em geral que 650 nerds da Internet e arredores com a criatividade incendiada, 3 dias reunidos num museu histórico cheio de oradores de luxo a falarem de tudo um pouco dentro dos grandes temas da tecnologia e da Internet, com muita programação, Arduinos, electrónica, impressoras 3D, máquinas de jogos, televisões 3D, mindstorms, quizes, concertos de música, açúcar, cafeína e pizza, muita largura de banda e eu sei lá que mais, é mil vezes melhor do que a Feira de Inventos de Chaves ? Não se explica, vive-se.
Informaram-me este ano que nos festivais de música ao terceiro ano é que é. Eu não diria tanto em relação ao Codebits mas tenho a certeza de que esta foi a melhor edição de todas. O espaço revelou-se fantástico (embora algo frio, admito), a maior parte dos pontos menos positivos das edições anteriores foram corrigidos, a qualidade dos oradores e dos participantes aumentou, a logística funcionou bem, os parceiros foram 5 estrelas e o ambiente, de uma forma geral, foi muito positivo. Mas se eu tivesse que reduzir o Codebits 2009 a uma única palavra seria “diversidade”. Diversidade porque entre 40 palestras ou “workshops” tivemos todo o tipo de temas ligados à tecnologia: sociais, electrónica e robôs, programação, mobile, web, recrutamento, arte, encriptação, e até “lockpicking” ou yoga. Acho que o queríamos fazer, na fundo, era criar um conjunto de conteúdos que pusesse o pessoal a pensar fora da caixa. Será que conseguimos?
Em relação ao uso do Inglês, só uma palavra para os críticos. Eu e toda a organização estamos-nos a borrifar, para não usar uma palavra mais forte, para a língua em que os oradores, participantes ou convidados falam no evento. E não me venham com a conversa do patriotismo porque é insultuoso, se há na Internet um projecto Português e para Portugueses e que se orgulha disso é o SAPO. No entanto o Codebits é sobre tecnologia, Internet e talento e, embora o evento seja dirigido a Portugueses, as barreiras geográficas e linguísticas não fazem nenhum sentido neste contexto. Juntaram-se a nós, entre oradores e participantes mais de 50 pessoas que não falam a nossa língua e viram-nos e ouviram-nos ao vivo outras tantas, é apenas uma questão de respeito e é prática comum em eventos deste tipo se fale Inglês ou Bilingue para que todos nos possamos entender uns aos outros. Eu respeito que ainda assim hajam pessoas que discordam mas daí até ter que ler coisas tão absurdas chamarem-nos de “tacanhos” ou aos jovens que participaram de “gerações inúteis” ou “anti-patriotas” vai uma grande distância. Para esses, os que não sabem discordar sem insultar, e que normalmente até são os mais iletrados ou frustados de todos, os meus ouvidos são surdos e o meu desprezo absoluto.
E como quase tudo já foi dito pelos blogs ou redes sociais vou acabar o post com algumas curiosidades dos bastidores, aquilo que se sabe menos sobre o Codebits. A foto do lado direito mostra o luxuoso escritório que nos serviu de apoio ao evento, atrás da tela do palco principal.
O Codebits demora quase 6 meses a organizar e é um trabalho de largas dezenas de pessoas, equipas do SAPO, Universidades, PT Comunicações, PT Inovação, da Hipnose e dos imensos parceiros que temos e que nos ajudam. Começa com um conceito e com um orçamento para o ano corrente e com uma apresentação à comissão executiva da PT, para aprovação. Depois tem altos e baixos até ao dia do evento sendo que os últimos 2 meses são absolutamente alucinantes (e stressantes, bom stress no entanto). Ele é o fornecedor de comida que ainda não temos, os bilhetes de avião que nunca mais são emitidos, as licenças da câmara que ainda não chegaram, o orçamento que está a estoirar, os prémios que não existem, o calendário que ainda não está fechado, os projectos SAPO para o Codebits que ainda não estão preparados, o parecer do departamento jurídico que ainda não chegou, eu sei lá, um caos. No fim, na última semana, como por milagre, tudo se compõe, e a coisa acontece.
A comida é um pesadelo. Não julguem que somos obcecados por Pizza (na realidade há uma pessoa que se senta perto de mim que é, mas isso é outra história). Não julguem também que não lemos o feedback dos participantes. Infelizmente não podemos ter qualquer tipo de comida num sítio como aquele em que realizamos o evento. Há questões relacionadas com a higiene, logística e de qualidade que os fornecedores não podem ignorar e é mesmo difícil arranjar alternativas que funcionem e que não inflacionem os custos para valores incomportáveis. É por exemplo impossível ter “hamburgers” no Codebits porque não os podemos cozinhar lá, e porque não há fornecedor que os transporte. Por outro lado também não podemos vender comida no Codebits porque isso exige uma licença específica que não temos.
Há muitas pessoas invisíveis no Codebits e que merecem reconhecimento. O Miguel da Hipnose é uma dessas pessoas, é um verdadeiro geek das visualizações e dos gráficos. Foi ele que fez aquele efeito no ecrã do palco grande e foi também ele que construiu aquela pilha de cubos na entrada com os avatares dos participantes projectados nas faces dos cubos a partir de dois ângulos diferentes e que é uma obra de arte pois envolve programação, projecção e engenharia de imagem, calibragem e muito jeito, tudo menos simples. E também foi ele que fez aquele carrossel nos Prémios SAPO no Campo Pequeno, para quem lá esteve, já agora. O Alexandre é outro amigo do Codebits que não me canso de mencionar. Ele é uma espécie de Mr. Wolf do Pulp Fiction, um “problem solver”, só que melhor, porque para além muito eficiente é extremamente prestável e cordial. É uma daquelas raras e valiosas pessoas que quando diz “não te preocupes, eu trato disso”, trata mesmo e é um descanso. Além disso é ele que por iniciativa própria nos traz castanhas assadas ou pastéis de Belém, e isso é de valor.
A Comsom tem sido, desde a primeira edição, o nosso parceiro no que diz respeito a filmagens e transmissão para a Internet e para o Meo. Este ano aperfeiçoámos ainda mais o processo. As filmagens ficaram impecáveis, com muita qualidade e com uns planos do caraças, especialmente no palco principal. Mais, muitos dos vídeos das “talks” entraram online na ficha do orador em poucas horas graças ao método ultra-eficiente combinado entre o Carlos Casimiro e o João Sil, que consistia em passar as streams de mpeg2 numa “pen” e em fazer o upload imediato para o SAPO Vídeos, o que nos valeu o elogio de muitas pessoas que não puderam vir ao Codebits. O som também ficou com muita qualidade, aprendemos muito nas últimas edições. Para ano só falta uma coisa: tapar os receptores de infra-vermelhos dos gravadores de DVD nos palcos pequenos ou deixar de convidar o Mitch e os seus TV-B-Gones.
O José Castro. Nota para ti queres organizar um evento: arranja um companheiro na organização que te complemente naquilo aonde tu és mais fraco e não o contrário. Eu sou desorganizado por natureza, fervo com alguma facilidade e sou um optimista. O Castro é estupidamente organizado e faz check-lists detalhadas de todas as tarefas e do estado das mesmas, é assustadoramente calmo mas ao mesmo tempo pensa em tudo o que pode correr mal. Por algum motivo é ele quem conduz as entrevistas de emprego no SAPO. Caro, tu foste grande! E por falar nisso, a foto do lado direito é a do Rick Roll colectivo que tivemos a lata de fazer aos nossos participantes, épico.
E agora há o rescaldo. Já estamos com o questionário de satisfação online, vamos ainda lançar um sistema de classificação de cada talk/workshop, vamos fazer várias reuniões com a equipa, vamos produzir um documento interno de conclusões, vamos ler tudo o que se disse na imprensa e/ou nos blogs e redes sociais, vamos convidar muitas equipas a virem falar connosco ao SAPO, não necessariamente aquelas que ganharam, vamos agradecer a todos os parceiros e oradores de forma personalizada e vamos recolher todas as apresentações para colocar online, assim só de memória.
A foto é de um jantar de carne (da boa) que alguns membros da organização fizeram logo a seguir à entrega dos prémios no Sábado. Nesse dia, e no espaço de cerca de 3 horas a Hipnose e outros parceiros desmontaram e limparam toda a Cordoaria Nacional e entregaram as chaves como se nada tivesse acontecido lá. Fizeram desaparecer em tempo recorde aquilo que demorou meio ano a organizar e mais de uma semana a montar. Impressionante.
Foi bom, muito bom. Quando a normalidade se torna banal e a excepcionalidade parece normal, isso quer dizer uma coisa, que a fasquia subiu muito. Missão cumprida.